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MATÉRIAS

PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS DA Educação Cristã (ARTIGO 1)

09/01/2023

     Ainda existe, na vasta literatura sobre este tema, muita dificuldade quando se trata de definir a “educação cristã”. Há escritores que a definem como sinônimo de discipulado, outros se referem a ela como uma atividade limitada à Escola Dominical, e há ainda aqueles que veem a educação cristã como um instrumento que deve nortear todas as atividades e desenvolvimento da pessoa.[1]


Solano Portela, talvez, por causa desta complexidade no campo das definições, apresenta um conceito de educação cristã, considerando quatro fatos:


1) O homem não é m ser neutro, nem um produto do meio, mas já nasce submerso em pecado, com a inclinação para o mal (Romanos 3.23; 3.10-18 e Eclesiastes 7.20);  2) Deus criou o homem para servi-lo e cada pessoa deve ser encaminhada desde os primeiros passos com este propósito, dentro de seus talentos naturais, adquirindo cada vez mais uma conscientização de sua finalidade de servir a Deus (Romanos 11.36; I Coríntios 10.31; Colossenses 1.17,18); 3) O Homem é um ser religioso e o conhecimento por ele adquirido sempre será interpretado e recebido dentro deste contexto religioso (Provérbios 1.7; 15.33; Romanos 2.15) e 4) Todo ensinamento ministrado no mundo trás em si, em maior ou menor grau, filosofias anticristãs que direcionam o homem contra Deus (Provérbios 14.7; 16.22 e Judas 10). (cf. PORTELA NETO, Francisco Solano. Educação cristã. São Paulo: Fiel, 1988. pp. 3-5)


Para atender nosso objetivo neste livro, e seguindo na mesma linha de raciocínio de Solano Portela, apresento uma definição, em que considero a educação cristã como disciplina, mas também levando-se em conta uma cosmovisão[2] cristã.


Educação Cristã é um processo que ocorre tanto informalmente como através de uma série de eventos planejada, sistemática e contínua, objetivando levar o crente a conformar-se à imagem de Cristo (maturidade),

[1] Cf. SANTOS, Valdeci da Silva. Educação Cristã: conceituação teórica e implicações práticas. Fides Reformata.  XIII, No. 2 (2008) p. 155,156. 

[2] O termo ‘cosmovisão’ veio da língua Inglesa como uma tradução da palavra alemã Weltanschauung (percepção de mundo, ponto de vista, concepção). Podemos definir “cosmovisão” como um conjunto de pressuposições e crenças que alguém usa para interpretar e formar opiniões acerca da sua humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade, questões sociais, etc. O cristão deve essas coisas, e todas as demais, orientado pela Escritura Sagrada. (cf. Crampton W. Gary & BACON, Richard E. Em Direção a Uma Cosmovisão Cristã. Editora Monergismo. Brasília. 2009.)

tendo como base autoritativa as Escrituras Sagradas e sustentada pelo Espírito Santo, visando à glória de Deus.[1]           

         Na sequência vamos desdobrar esta definição, apresentando alguns pressupostos da educação cristã. Mas antes, precisamos deixar claro que, ainda que os conceitos pedagógicos sejam semelhantes com a educação cristã escolar, nosso escopo neste livro é uma educação cristã aplicada à vida da igreja.


Pressupostos Principais


Desdobrando a definição acima, temos sete pressupostos teológicos importantes:


Primeiro pressuposto

Educação Cristã é um processo – santificação progressiva


Devemos ver a educação cristã como um processo de desenvolvimento e formação do ser humano. Por “processo” entendemos uma ação progressiva que ocorre através de uma série de atos e eventos que produzem mudanças, e não importa se são rápidas ou lentas,[2] desde que conduza a um progresso, a uma melhora. É o que na teologia chamamos de santificação progressiva (Cl 3:9,10).


Enquanto a santificação definitiva ocorre instantaneamente, quando da nossa conversão (Ef 1.1; I Co 6.11), a santificação progressiva continua por toda a vida. É um processo contínuo. Diversas passagens da Escritura fazem alusão a este aspecto da nossa santificação (II Pe 3.18; Fl 2.12; Cl 3.9,10; II Co 3.18).

Esta santidade é o propósito principal de Deus para nós. Como diz J.I. Packer, “é um processo educacional, planejado e programado por Deus com o propósito de nos refinar, purificar, animar, firmar e amadurecer. Por meio dele, Deus nos leva, progressivamente, à forma moral e espiritual que ele quer que alcancemos”.[3]


         O educador cristão José Abraham também vê a educação cristã como um processo. Diz ele que a educação é:




Rev. Dr. Gildásio Jesus Barbosa dos Reis

     

           

[1] REIS, Gildásio J. Barbosa. Princípios Norteadores para a Educação Cristã Reformada. In: Revista Teologia para Vida. SP: 2007. p. 21 (Solano Portela define a Educação Cristã considerando quatro fatos: 1) O homem não é m ser neutro, nem um produto do meio, mas já nasce submerso em pecado, com a inclinação para o mal (Romanos 3.23; 3.10-18 e Eclesiastes 7.20);  2) Deus criou o homem para servi-lo e cada pessoa deve ser encaminhada desde os primeiros passos com este propósito, dentro de seus talentos naturais, adquirindo cada vez mais uma conscientização de sua finalidade de servir a Deus (Romanos 11.36; I Coríntios 10.31; Colossenses 1.17,18); 3) O Homem é um ser religioso e o conhecimento por ele adquirido sempre será interpretado e recebido dentro deste contexto religioso (Provérbios 1.7; 15.33; Romanos 2.15) e 4) Todo ensinamento ministrado no mundo trás em si, em maior ou menor grau, filosofias anticristãs que direcionam o homem contra Deus (Provérbios 14.7; 16.22 e Judas 10). (cf. PORTELA NETO, Francisco Solano. Educação cristã. São Paulo: Fiel, 1988. pp. 3-5)

[2] A. Hoekema definindo a santificação progressiva, ensina que este processo de crescimento varia de pessoa para pessoa e em graus diferentes (Veja o capítulo 12 de Salvos pela Graça, pp. 199-239)

[3] J. I. Packer. A Redescoberta da Santidade, p. 14.



           O processo através do qual a comunidade de fé se conscientiza e se transforma, á luz de sua relação com Deus em Jesus como o Cristo, que o chama a viver em amor, paz e justiça consigo mesmo, com seu próximo e com o mundo, em obediência ao Reino de Deus (tradução nossa).


         Ele continua explicando a razão em se ver Educação Cristã como um processo. Utilizando a natureza como ilustração, diz ele:


Uma forma de entender isto é observar os processos da natureza, como por exemplo, uma semente.  A semente tem a potencialidade de se transformar em uma árvore de onde se colha os frutos, porém, isto não ocorre instantaneamente. Ela requer que a semente seja plantada em um lugar onde há terra e água. Através do tempo e das diferentes mudanças que vão ocorrendo nela, germinará e começará seu processo de crescimento e em um dia nos dará os seus frutos. E tudo isso tomará tempo, em alguns casos mais do que outros (tradução nossa).

        

Vemos este processo em Filipenses 2.12, onde Paulo nos encoraja a desenvolver a nossa salvação. O termo grego usado aqui para desenvolver é katergazomai, que pode ser traduzido por “esforçai-vos incessantemente para desenvolver a vossa salvação”


John MacArthur esclarece esta passagem dizendo que, este desenvolvimento da salvação é um “chamado aos crentes, para que exerçam constante esforço e diligência no viver santo”. E insiste que esta luta deve ser travada objetivando progresso na vida cristã:


“A ordem para desenvolver a salvação também se refere a lutarmos com um objetivo ou a trazermos algo à realização, plenitude ou término, da mesma forma que alguém pode “desenvolver” um problema difícil ou um pianista pode “desenvolver” uma difícil frase melódica de uma sonata. A expressão fala de resolver algo, aperfeiçoá-lo ou trazê-lo à conclusão”.

           

Este é o ponto. Devemos, portanto, ver a educação cristã como uma decisão em prosseguirmos em direção ao supremo objetivo da nossa salvação, até a perfeição, conformando-nos à imagem de Cristo. E vendo-a como um processo isto vai nos ajudar a planejar uma série de passos sistemáticos para que, aplicados e à luz das Escrituras Sagradas, possamos promover mudanças e crescimento na vida dos nossos alunos.

         Não obstante, não devemos esquecer que este processo é altamente pessoal e individualizado. Isto porque, cada um de nós recebeu uma educação ou formação diferente da dos outros, e cada um também se encontra numa fase de desenvolvimento espiritual. Educação cristã é um processo, e este não é igual para todos. Um pouco mais a frente, falaremos sobre o aspecto da maturidade, e ao analisarmos a passagem bíblica de Colossenses 3.9,10, a compreensão deste ponto que estamos chamando de processo poderá ficar mais claro.

Continua ...




 Jesús, José Abraham. En Busca de una Definición de educación Cristiana. Disponível em: <http://www.receduc.com/educacioncristiana/defincn.html >. Acesso em: 12.08.04

 Ibidem 

 MACARTHUR, John F. Jr. Nossa Suficiência em Cristo. Editora Fiel. SP: 1995. p. 168

 Idem, p.168

 Idem, p. 169